domingo, 9 de dezembro de 2012

Na tchissassa


By Orcélia Sales

Quando me falaram pela primeira vez que eu iria participar de uma tchissassa,  em um primeiro momento o que me chamou a atenção foi o nome tão desconhecido no meu verbete.
Então vamos às explicações..rs.  
A tchissassa é uma cerimônia de retirada do recém-nascido e da mãe de dentro da casa sete dias após o nascimento. 
Nas ruas
No caminho
Nesta tchissassa saímos em coro pelas ruas e quando chegamos a casa tinha uma mesa de honra preparada para os pastores e missionárias. A cerimônia foi conduzida pelas mulheres através de leitura bíblica, oração, musicas no dialeto local e as danças bem animadas.
Alegria, Alegria...
 Primeiramente cantamos e dançamos muito na porta da casa, depois eu e algumas mulheres entramos no quarto fizemos uma oração abençoando a mãe e o neném, mas mesmo após a oração a mãe não fazia sequer menção de levantar da esteira, então fui informada que eu deveria dizer em voz alta pra mãe que ela já poderia sair da casa.
Esteira onde a família dorme
Após os protocolos realizados dentro da casa as principais mães dançaram em volta do casal segurando o neném, foi algo muito emocionante eu também dancei segurando o bebe e tentando acompanhar o ritmo da coreografia..rs.


Mesa de honra















Em seguida cada pessoa deixou um presente ou dinheiro. Os presentes foram 8  cachês de sabão em pó, 1 barra de sabão, 1 fralda de pano, 2 conjuntinho, 1 chapéu, 2 sapatinhos e em dinheiro algo em torno de 35,00 reais. Os pais ficaram muito felizes com os presentes então foi servido o maheu para os convidados, e na mesa de honra bolachas e refrigerante.  
Convidados
EU na mesa de honra









Servindo o maheu
Casa, convidados, mesa de honra...

Mas nem sempre as tchissassas acontecem dessa forma, pois tudo depende da crença dos pais.





Quando os pais são ligados nas crenças consideradas tradicionais quem faz essa celebração é a curandeiro (a), que é contratada por um valor de mais ou menos 300,00 Meticais (aproximadamente 42,00 Reais).
Nesse tipo de ritual o curandeiro leva uma mistura de ervas e espalha pela casa recitando palavras especificas no dialeto local, depois ele tira um pouco dessa mistura para que a mãe lave as suas roupas e do recém-nascido. Pois a mulher é considerada impura devido o sangramento que é chamado de manduari, o marido e os familiares tem muito, pois acreditam que esse sangue tem maldição, por isso eles realizam a purificação da mulher.
Em seguida o curandeiro coloca em volta da cintura do recém-nascido uma fita de raízes que só pode ser retirada quando ele completar um ano, eles acreditam que se retirar antes do tempo o bebe morre.  Após esse momento a mãe e o bebe já podem sair de casa e passear, pois estão seguros de inveja, mal olhado, doenças etc. e a mulher já é considerada pura.
O fato é que em Moçambique existem muitos mitos e crendices que cercam do nascer ao morrer (leia o post sobre Morte) os curandeiros se aproveitam do pouco esclarecimento espiritual das pessoas e levam tudo para o lado do ocultismo com isso muitos creem no poder sobrenatural dos curandeiros, feiticeiros bruxos e Cia.
A tchissassa a meu ver esta incluída em uma categoria bem menos espiritual e mais preventiva de doenças e celebração do nascimento tal como fazemos no Brasil no chá de fraldas. Claro que existem muitas igrejas que preferem não celebrar a tchissassa por acreditarem que seja algo ligado as praticas de ocultismos. Biblicamente eu não vejo nada que desabone essa celebração pelas igrejas.
EU e o bebê 
Na minha opinião a tchissassa deve ser preservada como forma de gratidão e alegria bem como fez Abrãao que deu uma festa quando Isaac nasceu. Portanto que venham mais tchissassas porque aqui eu quero é festAaarrrr muiToooo..rs

Sobre a morte

By Orcélia Sales
Morte é morte em qualquer lugar do mundo.
Mas os rituais que são realizados desde o primeiro momento da constatação da morte até o sepultamente é que faz a diferença nas diversas culturas desse nosso planeta tão diversificado chamado terra. 
A morte aqui em Moçambique é chamada de infelicidade. Por aqui eu participei da infelicidade de um jovem que tinha somente 23 anos, e morreu da causa mais comum de morte em países africanos, em outro post vou falar desta causa mortis.
Agora quero explicar como e quais são os rituais seguidos em volta da morte.
Quando a pessoa morre em casa (os cômodos, o quintal) tudo é considerado pesadoespiritualmente, então a família chama o curandeiro para fazer uma reza e jogar água fervida com raízes em todos esses espaços, pois eles consideram que o espírito da pessoa morta ainda continua naqueles locais.  
Mas quando a família leva para a casa mortuária o corpo pode ficar por vários dias até todos os familiares chegarem para o sepultamento, neste caso não existe velório com corpo presente, mas antes de levarem o corpo para o cemitério abrem o caixão e um familiar coloca perfume no morto e seguem com cânticos, rezas e discursos.
Em outros casos alem da água no quintal e nos cômodos da casa o curandeiro faz pequenos cortes nos ombros, testa ou nas costas de todos os membros da família enlutada e coloca um tipo de raiz especifica no ferimento para que a morte não seja constante naquela família.
Outra coisa curiosa é que antes do sepultamento um familiar consulta o líder do cemitério, então este compra nipa (semelhante á pinga de engenho), cigarro, farelo de milho, folha de bananeiras...nessa etapa todos os familiares homens mais velhos do defunto ficam de joelho e o líder do cemitério bate palmas três vezes para pedir permissão aos espíritos dos antepassados isso é os primeiros que foram enterrados no local e são portanto considerados os donos do cemitério, fazem rezas e entoam palavras especificas em dialetos.
As pessoas acreditam que se não fizerem isso antes de abrir a cova pode advim algo muito ruim. Ouvi relatos de pessoas que não fizeram esse ritual de pedir permissão e um enxame de abelhas atacou todos que estavam abrindo a cova. Cada um aqui tem uma historia tipo filmes de terror para contar...
Quando é um recém-nascido que morre somente as mulheres podem participar dos rituais, elas amarram uma corda em volta da mãe que perdeu o seu filho entoam rezas, cânticos no dialeto local e jogam água com raízes na mãe, na hora do enterro lançam a corda dentro da sepultura para que os próximos filhos não tenham a mesma sorte.
É impressionante aqui em Moçambique como a morte une mais as pessoas do que durante a vida. Os cortejos fúnebres são grandes e demorados, pois diante do caixão no cemitério têm-se discursos, cânticos, rezas e uma coisa interessante é que ninguém pode chorar, pois podem desagradar os espíritos que são os donos do cemitério, o mais comum quando tem choro, segundo me relataram é os ancestrais enviarem abelhas para atacar as pessoas. 
Outra coisa interessante é o fato de enterrarem com o defunto todos os seus pertences (roupas, sapatos, escova de dente etc...) inclusive a ultima água que foi dado o banho é também levada para colocar sob o tumulo.
 Todos que estão no cemitério pegam um punhado de terra, fazem um gesto tipo um beijo e jogam a terra dentro da cova, isso é uma forma de demonstrar que contribuiu no enterro.
Após o sepultamento todos vão para a casa da família e levam ofertas em dinheiro para ajudar aquela família, este ato é meramente solidário não existe nenhuma questão espiritual, as pessoas vão fazer esse gesto com receio que no dia que for o seu próprio enterro ninguém ajude a sua família. Essa atitude é repetida também na visita de sétimo dia.
Cortejo funebre
Uma coisa semelhante com o Brasil é a visita de sétimo dia, aqui eles vão ao cemitério colocam flores, arruma o tumulo, troca a água e depois fazem uma festa na casa da família com cabrito, bebida alcoólica, muito caril e claro novamente tiram uma oferta.
A partir de agora todo domingo a família tem a obrigação de ir ao cemitério trocar a água que fica em uma vasilha em cima do tumulo, algumas pessoas antes de morrer deixam especificado o tipo de água que deseja no seu próprio sepulcro (fiquei sabendo que algumas pessoas pedem água do mar), essa água é para o espírito do morto beber, neste caso tem que ser água limpa e fresca.
Bom vou postar em outro momento sobre o nascimento.

Um Bom Caril

By Orcélia Sales

A primeira pergunta que sempre me fazem sobre Moçambique é sobre os pratos típicos. Confesso que já estou bem adaptada á culinária local. E para responder a todas as curiosidades resolvi escrever sobre esse deliciosoooo assunto.  hehehe
Aqui em Moçambique a gastronomia sofreu influência das cozinhas indiana, goesa e portuguesa e quem ganha com isso são os apreciadores de um bom prato cheio.rs
 Na vida moçambicana o milho, a mandioca e o amendoim são essenciais. Um dos pratos mais tradicionais em todo o território é a xima feita da farinha do milho ou dependendo da região pode também em alguns casos ser feita da farinha de mapira.


Xima



A receita da xima é muito simples: a farinha é cozida em água sem tempero formando uma massa firme (tipo um angu) é servida acompanhada por pratos com molho, o mais comum é o caril de frango, peixe ao molho de tomate, feijão etc.
EU devidamente bem servida...rs
 É denominado caril todo tipo de alimento que pode ser servido como acompanhamento do arroz ou xima e a melhor receita para comer um bom caril é estar em boa companhia. Geralmente a xima é servida com o caril galinha a Cafreal
Caril - Galinha Cafreal

 Outros produtos típicos em Moçambique são o piri-piri, o gergelim, o amendoim, a castanha de cajú e o côco que sempre estão inseridos em diversificadas receitas. Vale lembrar que nas cidades mais próximas ao oceano Índico o peixe carapau (que também é consumido seco), o camarão e demais frutos do mar tem destaque nas mesas.
Galinha Cafreal 

A base da pirâmide alimentar assim como a vida de cerca de 60% da população é simples, mas nada disso consegue apagar ou diminuir na vida do povo moçambicano a harmonia expressa nas danças, musicas e no colorido de suas roupas.

Ser Jovem

By Orcélia Sales

Ser Jovem é uma etapa da vida onde pairam as duvidas, incertezas, sonhos, desejos de conquistas é também uma fase decisiva nos desenvolvimentos dos relacionamentos afetivos que poderá culminar em matrimonio.
Jovem Geraldo e EU
Aqui em Moçambique quando a pessoa deixa de ser criança, então já é um jovem. 
O jovem moçambicano tem grande dificuldade de sonhar e pensar sobre o seu futuro, infelizmente devido os anos em que o país ficou em guerra e as questões políticas que aplicam pouco ou nenhum investimento em áreas primarias como a educação tem refletido em uma grande parcela de jovens analfabetos. Isso tudo tem levado ao crescente aumento das DSTs, gravidez precoce.
Alem do analfabetismo outro problema grave é o HIV/SIDA que tem dizimado milhares de vidas.  Aqui em Moçambique a expectativa de vida gira em torno de 47 anos, pois muitas outras doenças tais como malaria, tuberculose etc. afetam a população.
Ser jovem por aqui é um grande desafio!